quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dina Di, a grande guerreira do hip hop nacional



Com uma vida nada fácil, ela foi a primeira a esmurrar a porta do barraco brasileiro e anunciar as mulheres no rap. Uma mina de fato, como poucas dentro do hip hop. A atitude e a força na voz a fazem a "Rainha do Rap", eternizada mesmo após a confirmação da sua morte às 23h30 de sexta-feira (19). Vítima de uma infecção hospitalar após o parto da filha no último dia 2 de março, Dina Di deixou o mundo que nem sempre lhe foi o melhor lugar e partiu. No legado ela deixa o estilo e a rima na ponta da língua.
Tinha o rapper na carne e transformava as feridas arrombadas em letras. Dos CDs gravados, ficou conhecida após se apresentar como "a noiva de chuck" e o casamento só aconteceu há pouco tempo. Conheceu o hip hop aos 16 anos e escondida em roupas largas e bonés, apresentou as primeiras rimas, sempre defendendo o universo feminino. Dina Di morreu após dar à luz, na maior representação feminina que existe, o parto e o nascimento de um filho. Por ser conhecida, tem a história divulgada. Vítima de mais um sistema de saúde falido no nosso país. Com a visão que tinha da rua, montou um grupo de mesmo nome e gravou três CDs que ganharam os guetos rapidamente. Entre as vozes femininas do rap, Dina Di foi quem mais levantou a bandeira do movimento.
Vítima do próprio sistema que tenta combater, viveu uma vida literalmente à margem da sociedade. Não teve tempo de amamentar a filha como deveria e nem de vê-la crescer. Deixou mais uma, entre as milhares do Brasil, criança sem mãe neste país que não é pátria. Mesmo sendo quase invisível no sistema que o hip hop combate, ela foi uma denúncia andante, conceituou o rap na carne. Sempre teve medo de descer do palco e ver a Dina Di morrer. Antes de ir para o hospital, estava agendando shows por todo o Brasil. Não deu tempo de visitar Poços de Caldas.
Antes de se tornar conhecida, perdeu as contas de quantas vezes passou pela Febem desde que fugiu de casa, aos 13 anos. O pai de Dina Di era mestre de obras e morreu engasgado com um pedaço de carne num boteco, na periferia. A mãe dela era camelô e foi assassinada dentro de casa, uma morte lenta e dolorosa. Ela foi asfixiada com um pedaço de pano que lhe enfiaram na garganta, enquanto estava amarrada com os fios do varal de roupas. Mas nada disso a impediu de escrever com as vísceras e alma, relatando todas as dores que a perfuram.
Certa vez uma reportagem foi finalizada com a seguinte frase: "palco, diante de milhares de sobras humanas com voz e com raiva, Dina Di e os seus têm chance de não morrer no beco". Que pena que o otimismo não foi o suficiente. Ela morreu antes da hora. Se foi antes do tempo. Não ensinou tudo que podia e nem cantou tudo que queria. Mas, talvez nós, que acompanhamos esta trajetória e sabemos das dores de sermos tachados de trapos humanos consigamos melhorar um pouco a nossa periferia, a nossa volta e não percamos mais mulheres para a saúde falida do nosso país. 
fONTE uOL

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