Com
uma vida nada fácil, ela foi a primeira a esmurrar a porta do
barraco brasileiro e anunciar as mulheres no rap. Uma mina de fato,
como poucas dentro do hip hop. A atitude e a força na voz a
fazem a "Rainha do Rap",
eternizada mesmo após a confirmação da sua morte
às 23h30 de sexta-feira (19). Vítima de uma infecção
hospitalar após o parto da filha no último dia 2 de
março, Dina Di deixou o mundo que nem sempre lhe foi o melhor
lugar e partiu. No legado ela deixa o estilo e a rima na ponta da
língua.
Tinha
o rapper na carne e transformava as feridas arrombadas em letras. Dos
CDs gravados, ficou conhecida após se apresentar como "a
noiva de chuck"
e o casamento só aconteceu há pouco tempo. Conheceu o
hip hop aos 16 anos e escondida em roupas largas e bonés,
apresentou as primeiras rimas, sempre defendendo o universo feminino.
Dina Di morreu após dar à luz, na maior
representação feminina que existe, o parto e o
nascimento de um filho. Por ser conhecida, tem a história
divulgada. Vítima de mais um sistema de saúde falido no
nosso país. Com a visão que tinha da rua, montou um
grupo de mesmo nome e gravou três CDs que ganharam os guetos
rapidamente. Entre as vozes femininas do rap, Dina Di foi quem mais
levantou a bandeira do movimento.
Vítima do
próprio sistema que tenta combater, viveu uma vida
literalmente à margem da sociedade. Não teve tempo de
amamentar a filha como deveria e nem de vê-la crescer. Deixou
mais uma, entre as milhares do Brasil, criança sem mãe
neste país que não é pátria. Mesmo sendo
quase invisível no sistema que o hip hop combate, ela foi uma
denúncia andante, conceituou o rap na carne. Sempre teve medo
de descer do palco e ver a Dina Di morrer. Antes de ir para o
hospital, estava agendando shows por todo o Brasil. Não deu
tempo de visitar Poços de Caldas.
Antes de se tornar
conhecida, perdeu as contas de quantas vezes passou pela Febem desde
que fugiu de casa, aos 13 anos. O pai de Dina Di era mestre de obras
e morreu engasgado com um pedaço de carne num boteco, na
periferia. A mãe dela era camelô e foi assassinada
dentro de casa, uma morte lenta e dolorosa. Ela foi asfixiada com um
pedaço de pano que lhe enfiaram na garganta, enquanto estava
amarrada com os fios do varal de roupas. Mas nada disso a impediu de
escrever com as vísceras e alma, relatando todas as dores que
a perfuram.
Certa
vez uma reportagem foi finalizada com a seguinte frase: "palco,
diante de milhares de sobras humanas com voz e com raiva, Dina Di e
os seus têm chance de não morrer no beco".
Que pena que o otimismo não foi o suficiente. Ela morreu antes
da hora. Se foi antes do tempo. Não ensinou tudo que podia e
nem cantou tudo que queria. Mas, talvez nós, que acompanhamos
esta trajetória e sabemos das dores de sermos tachados de
trapos humanos consigamos melhorar um pouco a nossa periferia, a
nossa volta e não percamos mais mulheres para a saúde
falida do nosso país.
fONTE uOL
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