segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A VI Marcha da consciência


A VI Marcha da consciência negra realizada
em 20 de novembro de 2009, homenageou
Oliveira Silveira (1941-2009) , o poeta da
consciência negra.

Oliveira Silveira na Casa de Cultura Mário Quintana, em entrevista para O Estado de São Paulo, novembro/2006

Faleceu em 1º de janeiro de 2009, em Porto Alegre (RS),
o professor, poeta e pesquisador gaúcho Oliveira Ferreira
da Silveira, aos 68 anos. Ele era conhecido nacionalmente
como o poeta da consciência Negra.

O 20 de Novembro.

Integrante de maior projeção do extinto Grupo Palmares,
foi porta-voz da nascente data política para o Brasil, que
fazia uma releitura histórica através da adoção de Zumbi
dos Palmares como herói nacional. Estava em jogo a
desconstrução do mito da liberdade concedida, substituído
pela combatividade negra durante todo o período de
escravização e pela denúncia da ação do racismo, do
preconceito e da discriminação racial no Brasil.

O Grupo Palmares, fundado em 20 de julho de 1971,
realizou uma série de atividades públicas – durante o
regime militar – para evocação de ícones negros como
Luiz Gama e José do Patrocínio. A reverência a Zumbi dos

Palmares, ato de maior relevância daquele ano, ocorrera no
Clube Náutico Marcílio Dias, em Porto Alegre, frequentado
por negros. Em 1978, o 20 de Novembro foi elevado a Dia
da Consciência Negra a partir da fundação do Movimento
Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR).

Atuação contra o racismo

Oliveira Silveira teve constante atuação no Movimento
Negro através da militância política e da produção literária
negra. Fundou o grupo Semba, a Associação Negra de
Cultura e integrou o corpo editorial da revista Tição
(publicação do Movimento Negro gaúcho no final dos anos
1970). Com presença marcante, participou da produção
cultural gaúcha, compôs rodas de intelectuais e formadores
de opinião. Fora homenageado em diversos eventos, entre
eles a Feira do Livro de Porto Alegre.

Escreveu uma dezena de livros (Poema sobre Palmares,
Banzo Saudade Negra, Pêlo Escuro, Roteiro dos Tantãs,
entre outros), e inúmeros poemas acerca da vida de
homens e mulheres negras no Rio Grande do Sul e sobre a
questão negra de forma geral. Uniu-se a ativistas culturais
e políticos através de sua obra poética, como Pedro
Homero, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, nos Cadernos
Negros. Sua produção correu o mundo, com coletânea
de autores negros publicada na Alemanha e poesias
registradas em revistas de universidades dos Estados
Unidos (Virgínia e Califórnia).

Foi conselheiro de notório saber em relações étnico-raciais
do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial
(CNPIR) da Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir),
no período 2004-2008. Dias antes de sua morte, manteve-
se atuante como consultor da Secretaria em projeto para
preservação dos clubes negros como patrimônio material
e imaterial afro-brasileiro. Dedicava-se, também, ao
informativo eletrônico Negraldeia juntamente com Evandoir
dos Santos.

Frequentador assíduo dos clubes negros gaúchos, como
a Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora e a
Associação Satélite Prontidão, Oliveira Silveira foi o
idealizador e articulador do 1º Encontro Nacional de Clubes
Negros, em 2006. Mapeou mais de 70 entidades desse
seguimento existentes no País.

Simplicidade

Era entusiasta da causa negra, como ele próprio preferia
denominar. Militante negro. Lutava contra o racismo.
Colaborativo, tinha perfil agregador e encantava a todas as
pessoas com suas histórias de um período elementar para
o Movimento Negro brasileiro. Vivia num apartamento na
avenida Assis Brasil, zona Norte de Porto Alegre, repleto
de livros e pilhas de revistas e jornais – referências para
estudos, aprendizado e ensino de uma vida.

Gostava de registrar fatos e acontecimentos, de longas
conversas e de coisas simples, como os passeios com o
neto Tales ou pelo Centro de Porto Alegre, com paradas
estratégicas no Mercado Público, na Esquina Democrática,
na Rua da Praia e no Centro de Cultura Mário Quintana,
onde era encontrado por quem quisesse desfrutar de sua
agradável companhia. Um homem negro especial que,
como bem disse uma militante negra gaúcha, virou estrela.

Importante: este texto, escrito por ocasião do falecimento
de Oliveira Silveira,
nos foi cedido pela Jornalista e
militante da luta de combate ao racismo, Isabel Clavelin.

MAIS SOBRE OLIVEIRA SILVEIRA por ele mesmo
Trechos de entrevista concedida a Jader Nicolau, do Portal
Afro

20 de Novembro

“O 20 de novembro começou a ser delineado em encontros
informais na Rua dos Andradas, aqui em Porto Alegre. Estávamos

em 1971. Reuníamo-nos e falávamos muito a respeito do 13 de
maio, do fato desta data não ter um significado maior para a
comunidade.

A partir desta constatação comecei a procurar outras datas que
fossem mais significativas para o movimento. Comecei a estudar
a fundo a história do negro e constatei que a passagem mais
marcante era o Quilombo dos Palmares. Como não haviam datas
do início do quilombo, tampouco do nascimento de seus líderes,
optei pelo 20 de novembro. Colhi esta informação numa publicação
da Editora Abril dedicada a Zumbi, que dava esta data como a de
seu assassinato, em 1695.

Por ser uma revista, não se apresentava como fonte segura.
Resolvi pesquisar um pouco mais, como forma de garantia. mais
adiante, no livro "Quilombo dos Palmares", de Edson Carneiro, a
data se repetia. Considerei esta fonte segura, pela importância do
autor. Além disto, tive acesso a um livro português que transcrevia
cartas da época, numa delas era relatada a morte de zumbi, em 20
de novembro de 1695.

A partir de então colocamos em ação nossas propostas. Batizamos
o grupo de Palmares e registramos seu estatuto, em julho. No dia
20 de novembro do mesmo ano (1971), evocamos pela primeira vez
o "Dia Nacional da Consciência Negra", na sede do Clube Marcílio
Dias.”

"Há pessoas que imaginam que o Grupo Palmares tenha chegado
ao 20 de Novembro através da obra de Décio Freitas, historiador
branco que escreveu "Palmares, A Guerra dos Escravos", livro que
teve o mérito de pesquisar mais a fundo a vida de Zumbi. O fato
é que quando decidimos pela data, não conhecíamos nem Décio
Freitas nem sua obra, ele a havia editado no Uruguai, durante o
exílio, em agosto de 1971. A decisão de nosso grupo, portanto, é
anterior a publicação de seu livro."

O gosto pelas letras

"A literatura surgiu em minha vida na época em que ainda
morava em Rosário. Minha infância foi marcada pela poesia
popular, quadrinhas e versos de polca entoados durante os bailes
campeiros. Ritmos típicos do meio rural gaúcho. É um momento
especial, onde as mulheres tiram os homens para dançar e aí

se cantam versos, o par diz uma quadrinha um para o outro,
começando pelo rapaz e respondida pela moça. Também me
lembro dos "causos" contados pelos mais velhos na cozinha, ao
redor do fogareiro. Essas narrativas são um substrato da minha
literatura."

“Mais adiante tive contato com livros e comecei a escrever. Em
1958 publiquei meu primeiro poema, num jornal de Rosário. Isto
foi muito importante para o início de minha carreira. A partir dos
estímulos recebidos de amigos continuei a escrever poemas
regionalistas, que marcam até hoje meu estilo. Não me desvinculei
desta linguagem rural. Claro que depois experimentei outras
tendências, até chegar na poesia negra, na medida em que me
conscientizava”.

Oliveira em versos

Oliveira Silveira
Roteiro dos Tantãs

Para mais informações sobre a vida e obra de Oliveira Silveira
acesse o blog www,oliveirasilveira.blogspot.com

20 de Novembro de 2009.

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