quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os 100 mil Títulos de Pós-Graduação da USP são (praticamente) unicolores



Autor: Comitê Pró-Ações Afirmativas nas Universidades Paulistas

Entre os dias 07 a 11/10/2011, a USP estará promovendo um evento para comemorar os 100 mil títulos de pós-graduação da Universidade. O tema do evento é “A Pós-Graduação Construindo o Futuro”, mas pelo tema das mesas, ela parece não construir o futuro pensando no nosso passado colonialista-escravocrata.

O legado deixado por mais de três séculos de escravidão e cinco séculos de ausência de políticas públicas e/ou de políticas públicas que visavam prejudicar os africanos e seus descendentes tiveram como consequências um sistema social de exclusão e racismo, que nem sequer é citado nos diversos temas da “comemoração uspiana”. A razão do esquecimento é simples e muito bem conhecida pela população, a USP não possui nenhuma política de inclusão social voltada para a população negra, que representa mais de 50% da sociedade brasileira, mas em torno de 10% dos alunos da USP na graduação (somados pretos e pardos).

Historicamente, o povo negro tem ganhado diversas batalhas e avançado rumo à conquista de seus direitos básicos e de sua liberdade plena. Em 1.888 o povo negro conquistou a Abolição da Escravatura, depois o Direito à Posse de Terra (direito proibido pela Lei da Terra de 1.852... 36 anos antes da abolição?), depois o Direito de Manifestação e Propagação de suas Crenças Culturais e Religiosas (direito básico que foi proibido e reprimido severamente durante o séc. XX) e agora avança para conquistar a implementação, legítima, de Ações Afirmativas nas universidades públicas brasileiras.

A USP não possui um sistema de reservas de vagas para negros/as, ela aposta suas fichas no senso comum do discurso da “meritocracia” e da “universidade de excelência”, mas se esquece do fato de que inúmeras universidades superaram o racismo institucional e há anos implementaram Ações Afirmativas no acesso e na permanência. Os resultados mostram que os alunos cotistas têm desempenho igual ou melhor do que os não-cotistas! E agora? O que fazer? Qual o argumento a “elite intelectual uspiana” poderia utilizar-se? Talvez o discurso de que “não existem raças – pois todos somos descendentes de povos da África...” ou ainda o de que “o Brasil é um país miscigenado – evocando o mito da democracia racial de Gilberto Freire”.

Na Conferência de Durban, em 2001, o governo brasileiro reconheceu, sábia e oficialmente, a existência de racismo como um legado do período escravagista e das políticas públicas eugenistas do período republicano, e assinou um protocolo de combate ao racismo em todas as esferas do governo. Mas e a USP, o que ela faz para combater o racismo institucional existente dentro e fora dos seus portões?

Finalizamos este texto desejando que a USP comemore em breve 200-300-400 mil títulos de pós-graduação. Desejamos sinceramente que as pesquisas desenvolvidas na USP cumpram uma função social importante para alavancar o desenvolvimento econômico, ambiental e social, e que esta universidade, que formou e forma grandes cientistas e pensadores, torne-se cada vez mais, referência em pesquisa científica.

Porém, desejamos também que a USP informe à população:
  1. Qual é a proporção de negros e negras “titulados” dentro dessa marca incrível e memorável de 100 mil títulos de pós-graduação?
  2. Qual é a proporção de docentes negros e negras que orientaram esses 100 mil títulos?
  3. Por que a USP recusa-se a discutir (institucionalmente) as Ações Afirmativas com a comunidade acadêmica, com o Movimento Negro e, principalmente, com a sociedade brasileira?

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