Autor:
Comitê Pró-Ações Afirmativas nas
Universidades Paulistas
Entre
os dias 07 a 11/10/2011, a USP estará promovendo um evento
para comemorar os 100 mil títulos de pós-graduação
da Universidade. O tema do evento é “A Pós-Graduação
Construindo o Futuro”, mas pelo tema das mesas, ela parece não
construir o futuro pensando no nosso passado
colonialista-escravocrata.
O
legado deixado por mais de três séculos de escravidão
e cinco séculos de ausência de políticas públicas
e/ou
de políticas públicas que visavam prejudicar os
africanos e seus descendentes tiveram como consequências um
sistema social de exclusão e racismo, que nem sequer é
citado nos diversos temas da “comemoração uspiana”.
A razão do esquecimento é simples e muito bem conhecida
pela população, a USP não possui nenhuma
política de inclusão social voltada para a população
negra, que representa mais de 50% da sociedade brasileira, mas em
torno de 10% dos alunos da USP na graduação (somados
pretos e pardos).
Historicamente,
o povo negro
tem ganhado diversas batalhas e avançado rumo à
conquista de seus direitos básicos e de sua liberdade plena.
Em 1.888 o povo negro conquistou a Abolição da
Escravatura, depois o Direito à Posse de Terra (direito
proibido pela Lei da Terra de 1.852... 36 anos antes da abolição?),
depois o Direito de Manifestação e Propagação
de suas Crenças Culturais e Religiosas (direito básico
que foi proibido e reprimido severamente durante o séc. XX) e
agora avança para conquistar a implementação,
legítima,
de Ações Afirmativas nas universidades públicas
brasileiras.
A
USP não possui um sistema de reservas de vagas para negros/as,
ela aposta suas fichas no senso comum do discurso da “meritocracia”
e da “universidade de excelência”, mas se esquece do fato
de que inúmeras universidades superaram o racismo
institucional e há anos implementaram Ações
Afirmativas no acesso e na permanência.
Os resultados mostram que os alunos cotistas têm desempenho
igual ou melhor do que os não-cotistas! E agora? O que fazer?
Qual o argumento a “elite intelectual uspiana” poderia
utilizar-se? Talvez
o discurso de que “não existem raças – pois todos
somos descendentes de povos da África...” ou ainda o de que
“o Brasil é um país miscigenado – evocando o mito
da democracia racial de Gilberto Freire”.
Na
Conferência de Durban, em 2001, o governo brasileiro
reconheceu, sábia e oficialmente, a existência de
racismo como um legado do período escravagista e das políticas
públicas eugenistas do período republicano, e assinou
um protocolo de combate ao racismo em todas as esferas do governo.
Mas e a USP, o que ela faz para combater o racismo institucional
existente dentro e fora dos seus portões?
Finalizamos
este texto desejando que a USP comemore em breve 200-300-400 mil
títulos de pós-graduação. Desejamos
sinceramente que as pesquisas desenvolvidas na USP cumpram uma função
social importante para alavancar o desenvolvimento econômico,
ambiental e social, e que esta universidade, que formou e forma
grandes cientistas e pensadores, torne-se cada vez mais, referência
em pesquisa científica.
Porém,
desejamos
também que a USP informe à população:
- Qual é a proporção de negros e negras “titulados” dentro dessa marca incrível e memorável de 100 mil títulos de pós-graduação?
- Qual é a proporção de docentes negros e negras que orientaram esses 100 mil títulos?
- Por que a USP recusa-se a discutir (institucionalmente) as Ações Afirmativas com a comunidade acadêmica, com o Movimento Negro e, principalmente, com a sociedade brasileira?
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